sexta-feira, 27 de maio de 2011

Uma Visitante Curiosa

Sem ruído algum e sorrateira como um ladrão na calada da noite, seu corpo percorreu a areia sinuosamente, e nenhum olho percebeu-a se aproximar do grupo, veio despercebida pela cor da areia, onde se camuflava muito bem.
Na verdade, desconhecemos o motivo pelo qual ela veio até nós, talvez estivesse solitária em sua rede de túneis e uma conversa não lhe calharia nem um pouco mal, o motivo real nunca conheceremos, mas o susto que ela meteu nas meninas do grupo não foi muito pequeno não.
            Tratava-se de uma cobra-de-duas-cabeças, uma Amphisbaena alba, tinha cerca de quarenta e cinco centímetros, e ainda que não possuísse nenhum indicativo de ferocidade, meteu medo até mesmo nos rapazes que se diziam mais corajosos do grupo!
            Os répteis do gênero Amphisbaena  são conhecidos popularmente pelo nome de cobra-de-duas-cabeças, em razão de possuir uma cauda curta e arredondada, muito parecida com sua cabeça. Quando em perigo, as cobras-de-duas-cabeças colocam as duas extremidades do corpo em posição de ataque, o que lhes faz parecer realmente ter duas cabeças para olhos desatentos. Na verdade, este é só um artifício natural de defesa. Afinal, é preferível perder o rabo que a cabeça.
Em posição de defesa: ela realmente parece ter duas cabeças.
Além da cabeça falsa, ela também tem como defesa dentes na sua cabeça verdadeira, e deve ser capaz de desferir uma mordida dolorosa, no entanto, não tem peçonha, ou veneno, o que lhe faz menos temível que uma cobra coral, por exemplo.
            Ainda que seja chamada de cobra-de-duas-cabeças, elas são na verdade, lagartos, não serpentes, porque tem hábitos essencialmente subterrâneos. Para isso, são dotadas de um crânio ossificado extremamente eficaz na abertura de galerias subterrâneas forçando a terra. Nessas galerias elas esperam por insetos descuidados: suas presas. Raramente são vistas caçando na superfície. São répteis ovíparos, mas infelizmente não se conhece muito sobre seus hábitos reprodutivos.
Detalhe da cabeça: os olhos muito pequenos e revestidos por uma camada de pele lhe renderam outro nome popular: cobra-cega.
           
         No final da amável visita eu e o Jáder (que também participa da equipe do Abelhas Potiguares) transferimos a cobra-de-duas-cabeças de volta ao seu habitat, temendo que ela fosse brutalmente assassinada como muitas vezes acontece com outras de sua espécie menos afortunadas encontradas aqui e ali. A razão disso é a ignorância de uns, que, julgando por sua semelhança com serpentes, veem nelas uma ameaça, o que resultada no apedrejamento ou decepamento dessas criaturas tão interessantes e inocentes. Devemos compreender que todos tem um papel na Terra, e que o do ser humano definitivamente não é destruir e devastar, pelo contrário, o ser humano, como racional, deve preservar a natureza, e para isso, todas as ações contam, até mesmo as mínimas. 

Pra finalizar, o Jáder posando com a cobra-de-duas-cabeças (no canto inferior esquerdo da foto).


Afetuosamente,
Raul Rodrigues

Todas as fotos são de propriedade do autor.



Nenhum comentário:

Postar um comentário